EDSAN! Onde estará?
Edsan
foi estudante na Mascarenhas de Morais. Escola Municipal no Bairro do Caju. Idos
da década de 1990. Convivência de quase um ano. Ela, aluna; eu, professora
recém-chegada das areias de Praia Brava, por onde estive lecionando por quase
três anos. Saí de lá contagiada pela brisa e as ondas do mar angrense.
Mas
o município do Rio me chamou pra mais perto de casa. De Niterói ao Caju era
mais simples. Aparentemente.
Foi
na turma 507, última de uma formação de
sete turmas, que aprendi um pouco mais sobre complexidade, escuta, inusitado, teoriaprática,
impotência, cuidado, inocência, perigo, atitude, responsabilidade, educação,
formação.
Entre
tantos perfis, histórias de vida e expectativas, Edsan despontou. Sobressaiu amarga,
prepotente, autoritária, displicente, agressiva, intransigente. Nada aceitava,
nada queria do que se impunha como escolar . O que a movia? Assustada, a mim restava
reparar: Olhar seu olhar, acompanhar seus movimentos, testar meus e seus
limites de convivência no estranho espaço educativo (?), impositivo sim, óbvio,
previsto, prescrito, insosso.
Esse,
tão aparentemente comum, intragável ou não, guardava um universo ainda não explorado. Subjetividades
invisíveis, confrontantes, renegadas,
assustadas. Professores, de seu lado, afrontados. De outro, ela e outros,
defendidos e decididos. Ambos convictos da impossibilidade do contato
despretensioso, agradável, frutífero. Pra que serve a escola? A quem serve?
Não
havia predisposição a não ser para autodefesa contra o que parecia um ataque aos
princípios, à integridade, à autoestima, sempre tão ferida em ambos, antagonizados
pela crença de uma hierarquia respeitável, fundamentada na regulação, nem aí
pra humanização! Confirmados em lados dissociados,
firma-se uma guerra simbólica, explícita, silenciosa, permanente.
Tanto
fiz, tanto ouvi, tanto calei que Edsan desistiu de desistir e resistir. Aceitou
liderar o grupo do jornal. Aceitou outro tipo de liderança. Articulou para convencer
sua trupe a ceder. Participaram da
organização e produção do jornal. Afinal, suas mensagens, suas ideias,
suas músicas passariam a fazer parte. Outra qualidade de pertencimento. Agora
confirmada, estranhamente, naquele que aparecia
como seu opositor. Parecia bom! Valia arriscar!! Ela
que sempre teve seu espaço garantido, do lado de fora... Agora estava do lado
de dentro, fazendo junto.
Eis
que, já incluída, sorridente, festiva... Edsan... Enfim!
... A professora de Geografia... gravemente ferida, em seus brios, grita aos quatro
ventos que Edsan...
... que ela não quer, que ela não faz, que ela atrapalha, que ela desrespeita,
que ela...
Sabem
no que deu?
Sua
mãe foi chamada à escola pela professora de geografia. A mãe foi. A mãe anunciou taxativa: Se ela não quer estudar, então eu tiro da
escola.
Foi
assim que nunca mais encontrei Edsan na vida. Levou embora muito de suas possibilidades
de enfrentamento pacífico em espaço tão tenso, denso, vazio, contraditório...
Por
que a escola expulsa quem tem que acolher? Por que a sociedade não vê o que
todo tempo se mostra? Cadê Edsan? Quantas Edsan, silenciadas fora ou dentro da
escola?
Quem
é você professora? O que veio fazer? Ensinar geografia? Humanidades?
Atrocidades?
Edsan
se foi. Comigo ficou uma determinação,
mais fortalecida talvez, de não desistir dela, em qualquer pessoa que ela se
apresente.
A
cobra não fumou. E a guerra está aqui!
O
que diria Paulo Freire a Mascarenhas de Morais?
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