quinta-feira, 25 de julho de 2013

HISTÓRIA 1



EDSAN! Onde estará?

               

                Edsan foi estudante na Mascarenhas de Morais. Escola Municipal no Bairro do Caju. Idos da década de 1990. Convivência de quase um ano. Ela, aluna; eu, professora recém-chegada das areias de Praia Brava, por onde estive lecionando por quase três anos. Saí de lá contagiada pela brisa e as ondas do mar angrense.

                Mas o município do Rio me chamou pra mais perto de casa. De Niterói ao Caju era mais simples. Aparentemente.

                Foi na turma 507, última de uma  formação de sete turmas, que aprendi um pouco mais sobre  complexidade, escuta, inusitado, teoriaprática, impotência, cuidado, inocência, perigo, atitude, responsabilidade, educação, formação.

                Entre tantos perfis, histórias de vida e expectativas, Edsan despontou. Sobressaiu amarga, prepotente, autoritária, displicente, agressiva, intransigente. Nada aceitava, nada queria do que se impunha como escolar . O que a movia? Assustada, a mim restava reparar: Olhar seu olhar, acompanhar seus movimentos, testar meus e seus limites de convivência no estranho espaço educativo (?), impositivo sim, óbvio, previsto, prescrito, insosso.

                Esse, tão aparentemente comum, intragável ou não,  guardava um universo ainda não explorado. Subjetividades  invisíveis, confrontantes, renegadas, assustadas. Professores, de seu lado, afrontados. De outro, ela e outros, defendidos e decididos. Ambos convictos da impossibilidade do contato despretensioso, agradável, frutífero. Pra que serve a escola? A quem serve?

                Não havia predisposição a não ser para autodefesa contra o que parecia um ataque aos princípios, à integridade, à autoestima, sempre tão ferida em ambos, antagonizados pela crença de uma hierarquia respeitável, fundamentada na regulação, nem aí pra humanização! Confirmados em lados  dissociados, firma-se uma guerra simbólica, explícita, silenciosa, permanente.

                Tanto fiz, tanto ouvi, tanto calei que Edsan desistiu de desistir e resistir. Aceitou liderar o grupo do jornal. Aceitou outro tipo de liderança. Articulou para convencer sua trupe a ceder. Participaram da  organização e produção do jornal. Afinal, suas mensagens, suas ideias, suas músicas passariam a fazer parte. Outra qualidade de pertencimento. Agora confirmada, estranhamente, naquele que  aparecia  como seu  opositor. Parecia bom! Valia arriscar!! Ela que sempre teve seu espaço garantido, do lado de fora... Agora estava do lado de dentro, fazendo junto.

                Eis que,  já incluída, sorridente, festiva... Edsan... Enfim!

               ... A professora de Geografia...  gravemente ferida, em seus brios, grita aos quatro ventos que Edsan...
                 ... que ela não quer, que ela não faz, que ela atrapalha, que ela desrespeita, que ela...

                Sabem no que deu?

                Sua mãe foi chamada à escola pela professora de geografia. A mãe foi.  A mãe anunciou taxativa:  Se ela não quer estudar, então eu tiro da escola.
                  
                Foi assim que nunca mais encontrei Edsan na vida. Levou embora muito de suas possibilidades de enfrentamento pacífico em espaço tão tenso, denso, vazio, contraditório...

                Por que a escola expulsa quem tem que acolher? Por que a sociedade não vê o que todo tempo se mostra? Cadê Edsan? Quantas Edsan, silenciadas fora ou dentro da escola?

                Quem é você professora? O que veio fazer? Ensinar geografia? Humanidades? Atrocidades?

                Edsan se foi. Comigo ficou  uma determinação, mais fortalecida talvez, de não desistir dela, em qualquer pessoa que ela se apresente.

                A cobra não fumou. E a guerra está aqui!

                O que diria Paulo Freire a Mascarenhas de Morais?

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